sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Brasil tem até junho para cumprir acordo com observatório no Chile

Entrada do país no grupo de pesquisa astronômica pode estar ameaçada.
Diretor diz que telescópio gigante é inviável sem ajuda brasileira.



A participação brasileira como país-membro do Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês), grupo europeu de pesquisas astronômicas, pode estar ameaçada caso o país não cumpra o acordo estabelecido em dezembro de 2010, que prevê um investimento de 250 milhões de euros para a aceitação no consórcio, segundo o diretor-geral do ESO, o astrônomo holandês Tim de Zeeuw. Se o Brasil não entregar sua parte, a construção de um telescópio gigante já atrasada pode não acontecer.
Segundo Zeeuw, o prazo final para uma resposta financeira do Brasil precisa ocorrer até junho, seis meses depois do previsto no compromisso inicial firmado no final do mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do então ministro de Ciência, Tecnologia Sérgio Rezende.
“Se existe um prazo final? Acho que podemos dizer que sim, afinal o compromisso inicial era em dezembro de 2011. Se a situação não se resolver até junho, teremos problemas”, alerta o chefe do ESO.
Tim de Zeeuw cita que essa demora não é compreendida pelos outros países-membros do ESO. "Algumas nações que participam do grupo estão surpresas. E também não tem sido fácil entrar em contato com o governo brasileiro", diz.
O ministério afirmou em nota que o projeto no valor de 250 milhões de euros foi reavaliado por conta de ajustes orçamentários feitos pelo governo brasileiro em 2011 e pela atual conjuntura econômica internacional.

Ilustração mostra como será o Telescópio Europeu Extremamente Grande. (Foto: ESO) 
Ilustração mostra como será o Telescópio Europeu Extremamente Grande. (Foto: ESO)
 
O ministério brasileiro afirma que após reavaliação, o projeto está em fase final de conclusão e deve ser enviado ao Congresso Nacional para votação em breve. Se aprovado, o valor, equivalente a R$ 566 milhões, deverá ser pago totalmente até 2021.

Telescópio Extremamente Grande
O Brasil é peça-chave para tornar viável o projeto mais ambicioso da instituição atualmente: o Telescópio Europeu Extremamente Grande (E-ELT, na sigla em inglês), um instrumento óptico que contará com um espelho primário de 39,3 metros e será, segundo o ESO, o maior equipamento para detectar luz visível disponível no mundo.
Quando pronto, o telescópio deverá permitir pesquisas sobre os principais campos de investigação astrônomica atuais como a procura por planetas fora do Sistema Solar, a análise de buracos negros e pesquisas sobre a origem do Universo. O local escolhido para receber o instrumento é Cerro Amazones, no Chile.
Orçada em 1 bilhão de euros, a construção do equipamento estava prevista para começar em 2011 e pode demorar ainda mais caso o Brasil não garanta parte do investimento.
“Para que a gente possa começar a construção do telescópio, nós precisamos da participação brasileira”, explica Zeeuw.
O país espera garantir transferência de tecnologia e participação da indústria nacional.
O ESO já disponibiliza instrumentos e instalações no Chile para uso de pesquisadores brasileiros desde 2011. A pasta de Ciência reconhece que 30% do tempo solicitado por cientistas nacionais foi cedido, valor pouco abaixo dos 32% aceitos, em média, para os outras nações.

Tim de Zeeuw, diretor-geral do Observatório Europeu do Sul. (Foto: ESO) 
Tim de Zeeuw, diretor-geral do Observatório
Europeu do Sul. (Foto: ESO)

Mudança ministerial
Tim de Zeeuw está ciente dos argumentos apresentados pelo Ministério da Ciência e diz compreender a dificuldade para um contato nos últimos dias, marcados pela mudança na pasta, com o ministro Aloizio Mercadante sendo substituído por Marco Antonio Raupp, chefe da Agência Espacial Brasileira (AEB).
“É natural a demora por responder neste momento, espero entrar em contato com Raupp em breve, que é uma pessoa com um passado ligado à comunidade astronômica”, diz de Zeeuw.
O diretor-geral também afirma não estar interessado em rediscutir as bases do acordo firmado em 2010. “O contrato inicial é bom para todas as partes, acho que ele faz sentido", afirma, sinalizando que as relações com o Brasil seguem amistosas. "Caso isso seja resolvido, nós esperamos por uma parceria que dure muitos anos."






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