terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Paleontólogos apresentam fóssil do 'Matador dos Pampas' no RS

Fóssil foi encontrado em São Gabriel, região sudoeste do estado.
Trata-se do primeiro carnívoro da Era Paleozóica achado na América do Sul.



O fóssil do crânio do Pampaphoneus Biccai, uma nova espécie encontrada em São Gabriel, na região sudoeste do Rio Grande do Sul, foi oficialmente apresentado na manhã desta terça-feira (17) por uma equipe internacional de paleontólogos no Museu de Paleontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A peça foi descoberta em 2008, durante escavações feitas na região. Desde então, passou por trabalhos de limpeza e restauração.
O nome Pampaphoneus significa “Matador dos Pampas” em grego. Já a espécie, Biccai, é uma referência a José Bicca, o proprietário da fazenda onde o fóssil foi encontrado.

Fóssil encontrado no RS foi apresentado nesta terça (17) em Porto Alegre (Foto: Cadinho Andrade/Divulgação UFRGS) 
Fóssil encontrado no RS foi apresentado nesta terça (Foto: Cadinho Andrade/Divulgação UFRGS)

O animal era um dinocefálio, um tipo de terápsido (réptil mamaliforme), parente distante dos mamíferos. Segundo os pesquisadores, o predador viveu no Período Permiano (mais de 260 milhões de anos atrás) da Era Paleozoica, media cerca de três metros e pesava aproximadamente 300 quilos.

Professor Juan Carlos Cisneros apresenta o fóssil encontrado no RS (Foto: Cadinho Andrade/Divulgação UFRGS) 
Professor Juan Carlos Cisneros apresenta o fóssil
(Foto: Cadinho Andrade/Divulgação UFRGS)

Os paleontólogos ressaltaram a importância da descoberta, destacando o fato de ser o primeiro carnívoro do período a ser achado na América do Sul, além de apresentar uma semelhança com dinocefálios carnívoros encontrados na Rússia e na África do Sul.
A descoberta será publicada esta semana na Revista americana Proceedings of The National Academy of Sciences, uma das mais conceituadas do mundo científico.

Caça a fósseis
O achado foi divulgado na revista da Academia de Ciências Americana, a PNAS, nesta segunda. Cisneros já esperava encontrar fósseis no Rio Grande do Sul que fossem parecidos com os de outras partes do globo.
“A gente tinha uma suspeita de que esse animal pudesse existir no Brasil”, afirma.
Entre 2008 e 2009, a equipe de Cisneros visitou 50 localidades no país, procurando por sítios paleontológicos relevantes. Eles escolheram dez lugares, sendo que um deles rendeu a descoberta de outro animal pré-histórico, mas herbívoro: o Tiarajudens eccentricus, um terápsido com dentes no céu da boca (palato), cujo fóssil também foi achado em São Gabriel.
“Procurávamos sempre por lugares sem vegetação e, dependendo das cores observadas e da erosão no local, nós avaliamos as chances de encontrar fósseis ou não”, explica o especialista. “Essa área dos pampas gaúchos apresenta grande potencial, há rochas sedimentares ali, que cobrem os restos mortais dos seres vivos com areia e lama.”

Ilustração mostra como seria o 'Pampaphoneus biccai'. (Foto: Cortesia Juan Carlos Cisneros / Divulgação) 
Ilustração mostra como seria o 'Pampaphoneus biccai'. (Crédito: Voltaire Neto / Divulgação)
Passeio pela Pangeia

Cisneros defende que o estudo é uma prova da grande mobilidade dos vertebrados terrestres por todos os cantos do supercontinente Pangeia, que unia, no passado, todos os continentes atuais.
O fóssil é muito parecido com as espécies encontradas atualmente na Rússia, no Cazaquistão, na China e na África do Sul. Com a versão brasileira deste tipo de animal, especialistas acreditavam que uma distribuição mais cosmopolita dos terápsidos pode ter ocorrido muito antes do que se imaginava.
Até então, os cientistas afirmavam que este tipo de interação teria ocorrido somente mais tarde, durante o período Triássico – entre cerca de 250 milhões e 200 milhões de anos atrás.

'Pais' dos mamíferos
Apesar de serem muito parecidos com répteis, os terápsidos se encontram mais próximos dos mamíferos na arvore genealógica dos animais pré-históricos. Isso os distancia também das comparações com os dinossauros.
Os mamíferos atuais possuem ossos dentro do ouvido que participam da audição, além de dentes mais complexos, cauda menor e uma postura mais ereta. No caso de P. biccai, a semelhança com répteis aparece somente quando se leva em conta a forma como os dentes se encaixavam: os de cima entre os debaixo, como ocorre em uma boca de jacaré.


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